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Neste blog você vai ler textos autorais, poesias e se for além das palavras, vai entender as letras que juntei para saber sobre quem eu sou, e assim, quem sabe, descobrir um pouco mais sobre quem é você. Boa viajem nesse trem de palavras do autoconhecimento; o meu e o seu.
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Sobre ter pai
Eu não sei por onde ele andou enquanto eu estava crescendo, não sei exatamente o que ele fazia enquanto eu chorava em algum canto, nem mesmo sei se ele pensava em como eu me sentia sendo menina, sendo sua filha, sendo alguém.
Eu só o conheci um pouco melhor quando eu enxerguei sua pele flácida e seus olhos buscando me ver verdadeiramente. Mas ele sempre esteve perto de mim, nunca senti ele longe e sua presença estava sempre lá, ainda quando fisicamente estivesse em outro lugar.
Eu nem sempre estive com meu pai, eu na verdade sinto que ele conviveu pouco comigo, nós não falávamos quem éramos um para o outro, mas chegou um momento no qual eu o enxerguei.
Eu consegui olhar para ele através das histórias que contava sobre ele e suas irmãs, e como havia sido com relação aos seus pais, suas viagens aventureiras e do casamento dele com minha mãe. Mas, aquele homem que “determinou” metade de quem sou eu, só o conheci doente em muitas conversas entre uma internação e outra em um quarto de hospital.
Lá naquele lugar de silêncio, através da fragilidade, da dependência, do não constrangimento, da entrega, das lamentações e do mútuo afeto eu conheci meu pai.
Eu não tinha dúvida do que fazer, do que perguntar e ele respondia placidamente sem reservas, contava suas histórias e eu percebia que ele gostava de ser protagonista. Ele contava seus feitos e queria ser reconhecido por isso, por ter sido bom filho, bom funcionário, aquele que ajudava todos os parentes, que acolhia e eu confirmava tudo isso intimamente sem saber explicar aquela certeza. Mas não havia detalhes sobre ser bom pai, mas curiosamente eu não buscava esses detalhes, eu apenas olhava para ele e pensava: ele foi bom para mim.
Nele se encaixava mais uma frase que eu ouvira: “seus pais fizeram e deram aquilo que deram conta de dar”. Eu mesma me surpreendi como não fazia nenhum esforço, era fácil para mim entender e aceitar que meu pai fez o melhor que ele pôde fazer.
Demorou, mas hoje, eu sinto o amor do meu pai. Eu comecei a sentir antes dele partir e continuo sentido, e posso afirmar que nesse momento é o amor mais forte que eu consigo sentir de alguém por mim.

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