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Artigos

Sobre amizade

Amizade vai além de estar perto, ultrapassa um ouvir descuidado e avança para uma escuta verdadeira. Observe se o seu olhar também vai além. Ser amigo é ser presente de maneira única e especial. É não precisar de muito, apenas SEJA . O que tornamos especial é a atenção, o cuidado, o falar simples mas pontual, o se importar, o estar feliz pelo outro. Ser amigo é saber que o outro está bem e não se importar se caso o seu amigo está em um momento melhor que o seu, e sim ficar feliz por ele. Ficar calado junto, não precisa falar, é silenciar junto apenas sendo presente. É permitir que o outro seja quem É, sem julgamentos e ainda assim sentir-se bem com a amizade. Somos olhos, mãos, passos e liberdade de quem chamamos amigo e não é fácil ter pessoas amigas e sinceras sempre por perto. Por isso, por onde estiver, ainda que sejam poucas, vá nutrindo algo que seja imenso no mundo de cada pessoa amiga.

Enquanto o sol brilha no Japão

Enquanto o sol brilha no Japão

Mais uma vez ele se despede, vai embora ecoando cobrança com amor, sumindo se esconde por detrás nem sei de onde, então só imagino. Sol.

De repende, muito rápido mesmo, tudo escurece fora e dentro de mim, é hora de fazer o balanço positivo (ou não) do dia e me pergunto se vai demorar muito para amanhecer novamente.

Com a noite chegam os medos e preocupações, lembranças e a surdez do vácuo escuro que me pertuba e vai transcendendo meu próprio corpo inerte sobre onde devo descansar. Existe medo até em  mexer minhas pernas cansadas, e o único universo conhecido agora é o espaço onde minha vista alcança, e ele é bem pequeno. Um mundo escuro e pequeno que só cresce em minha mente.

Existe porém, o sorriso da noite, quando a companhia chega barulhenta e cansa até os meus ossos, mas reprimo toda e qualquer indiferença ou desconforto, pois sei bem vai passar  e ela não é constante, pois nem a pausa nem a agitação são constantes.

Tudo vai se aquietando, as portas se fechando por dentro e o remorço se acomodando nas cadeiras dispostas à mesa. Alguns passos são ouvidos, podem ser reais ou não, mas sei que existem assim como os miados e latidos e até o barulho de alguém comendo a essa hora incomoda-me. Alguém já falou, que tudo me incomodava, e essa talvez seja uma verdade estagnada em minha percepção turva de águas escorridas por ralos de ouro que não deixa nada ficar. 

Tudo sempre se esvai, vai embora dormir em outro lugar, ou seja, sou eu mesma querendo dormir nesse lugar de insônia, leituras e histórias bonitas que não foram contadas por mim. Que pena, não são minhas essas histórias que fazem chorar e sorrir, mas eu não deixo elas irem embora, então são minhas de alguma forma.

Enquanto aqui escurece, dentro do meu imaginário escurece, eu me liberto dando alguns passos na direção de uma falsa disciplina, de um mentiroso querer, ilusório e perdido pedido de salvação de um corpo que pode agora ser uma mentira. Mas que mentira é essa que todos aplaudem e que verdade é essa mostrada mas ignorada. Essa escuridão, essa noite não haverá lamento nem pedidos de perdão, somente agradecimentos pois consegui enganar a visão do que se diz sábio e agora alimento-me dos verdadeiros aplausos pela coisa tão fragilmente falsa. 

Chegou junto com a noite a inspiração e logo não haverá mais tinta nem papel suficiente para encharcar de ideias aleatórias, descambo sobre uma mão cansada e um cérebro totalmente alerta que não me deixa dormir. Lembro-me do afago, das conversas sem sentido e até do sentido de não ser vista quando a indiferença dormia ao meu lado. Pergunto-me: quando foi mesmo que eu me dei conta que existia a noite?

Quando foi que vi ou entendi que é no girar que tudo acontece, que é no envolvente movimento de nascer e morrer que moram as mais astutas metáforas, que são as histórias narradas nesse tempo de vai e vem que nos mostram como são as coisas do além pensar, do além agir, do além sentir e sobretudo do que está além do meu existir. Não corro mais para encontrar a luz, já perdi essa pretensão de mantê-la comigo, agora só vejo como ela é breve e como é feliz quem a possui por segundos de tempo, passa tão rápido.

É como se não existisse mais esperança e a vitalidade aquieta enquanto mais tarde fica, os olhos em algum momento tendem a fechar-se, dormir e sonhar. Durma, é noite, não esqueça de: fechar todas as portas, ligar os alarmes, olhar se estão todos em casa, de jantar, de aconchegar-se ao amor, de pedir que chova, de ler, chorar, orar, escrever no seu diário de gratidão, tente dormir.

O momento literal dos sonhos, dos acontecimentos irreais, dos fragmentos sem sentido e de espantos  que te fazem acordar quando ainda falta muito tempo ...

Este é o momento da minha alegria, de ficar na surdina, de acolher minha companhia, de dizer e escrever meus fracassos, de pensar que mais uma vez eu me escondi, eu me contive com mil pessoas e falei apenas com uma, enquanto eu deveria ter falado com aquelas tantas bocas e mãos ávidas por serem salvas de algo que nem sei explicar, mas imagino que eu poderia ajudar. Falei apenas com uma pessoa, a qual nem pude ajudar. Que lamentável noite.

Os sonhos cessaram, chegou a “realidade iluminada”, abreviou-se mais uma vez a vida, o existir aqui e como não dizer os segundos finitos do dia começaram. E como são rápidos esses segundos, imersivos, vãos, penosos, lamentáveis, indigno sou de findá-los nesse estado mental chamado passado cheio de pessoas em minha mente.

Não há preferência, mas não há como negar que são mais intensos, escuros e estranhamente medrosos e cheios de fé os momentos vividos enquanto o sol brilha no Japão.


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